sábado, dezembro 06, 2014

Homero - Odisséia - Canto XVIII - Fala de Penélope



Mais um fragmento de Homero, dessa vez um lamento de Penélope. Ela cita o discurso de despedida de Odisseu, quando ele partia para a guerra de Tróia. Odisseu diz pra ela se casar com com outro, caso ele não volte. A frieza do discurso do herói e a firmeza dos conselhos impressionam em contraste com o tom emotivo que a esposa vinha dando nos versos anteriores.





Odisséia Canto XVIII
Versos 257-270

ἦ μὲν δὴ ὅτε τ᾽ ᾖε λιπὼν κάτα πατρίδα γαῖαν, 
δεξιτερὴν ἐπὶ καρπῷ ἑλὼν ἐμὲ χεῖρα προσηύδα:
ὦ γύναι, οὐ γὰρ ὀΐω ἐϋκνήμιδας Ἀχαιοὺς 
ἐκ Τροίης εὖ πάντας ἀπήμονας ἀπονέεσθαι: 
καὶ γὰρ Τρῶάς φασι μαχητὰς ἔμμεναι ἄνδρας, 
ἠμὲν ἀκοντιστὰς ἠδὲ ῥυτῆρας ὀϊστῶν ἵππων 
τ᾽ ὠκυπόδων ἐπιβήτορας, οἵ κε τάχιστα ἔκριναν 
μέγα νεῖκος ὁμοιΐου πολέμοιο. 
τῷ οὐκ οἶδ᾽ ἤ κέν μ᾽ ἀνέσει θεός, ἦ κεν ἁλώω 
αὐτοῦ ἐνὶ Τροίῃ: σοὶ δ᾽ ἐνθάδε πάντα μελόντων. 
μεμνῆσθαι πατρὸς καὶ μητέρος ἐν μεγάροισιν 
ὡς νῦν, ἢ ἔτι μᾶλλον ἐμεῦ ἀπονόσφιν ἐόντος: 
αὐτὰρ ἐπὴν δὴ παῖδα γενειήσαντα ἴδηαι, 
γήμασθ᾽ ᾧ κ᾽ ἐθέλῃσθα, τεὸν κατὰ δῶμα λιποῦσα


E quando então ia abandonando a terra pátria
A mão direita tendo me pegado pelo punho Vozeou:
“Mulher Não acho pois que os Acaios de belas caneleiras
de Tróia bem e ilesos vão todos retornar
Pois dizem também os Troianos serem homens lutadores
Tanto no lançar a lança quanto no trazer a flecha
E no montar os cavalos de patas rápidas Estes logo
decidem a grande luta de uma guerra parelha
Por isso não sei se um deus me retornará ou se serei pego
lá em Tróia Mas por aqui com tudo te preocupes
Lembre pelos salões do pai e da mãe
Como agora ou ainda mais de mim estando distante
Mas quando então o filho de barba vires
Case-se com aquele que quiseres Largando teu palácio”

terça-feira, dezembro 02, 2014

Negaceio



Como a gravidade invertida
numa vontade primitiva
que aflora na pele
mas não clareia na mente

Nossos olhares são desviados
em propósitos esvaziados
propositalmente.

Juntos somos muitos
mas não tantos
quanto um 

Incompletamente 
permanecemos 
Em um em dois em mais

Até que o tempo 
ou o espaço dilua 
o mais importante momento
que nunca aconteceu.

Cerne


Cada trincado do concreto
tem em sua greta
mais história do eu alcanço
da janela do meu quarto
ou nas prendas da memória

A dureza quebra
o que o macio verga

e na medula líquida
de uma espinha óssea
acontecimentos de relevância única
ecoam no vazio do não testemunhado






quarta-feira, novembro 26, 2014

Idílio III - A Serenata - Teócrito


    Este idílio apresenta como personagem principal um cabreiro que não é nomeado e que está perdidamente apaixonado por uma Ninfa chamada Amarília. Ele entrega suas cabras para o amigo Títiro pastorear, enquanto ele próprio faz uma serenata na porta da caverna da Ninfa. Não existem indicações claras do local em que o poema se passa. O poema é um monólogo, mas que guarda a forma de diálogo dos mimos antigos pelo uso de um interlocutor mudo. O apelo a Amarília pode ser divido em três partes que terminam com a oferta de um presente específico (maçãs, coroa de flores e uma cabra) e uma quarta parte que contém uma canção de amor. O poema configura uma versão rústica do chamado komós, que é quando um ou mais jovens, muitas vezes bêbados, percorrem a cidade até a casa de alguém para cantar à sua porta.




ΘΕΟΚΡΙΤΟΥ - ΚΩΜΟΣ


Κωμάσδω ποτὶ τὰν Ἀμαρυλλίδα, ταὶ δέ μοι αἶγες
βόσκονται κατ’ ὄρος, καὶ ὁ Τίτυρος αὐτὰς ἐλαύνει.
Τίτυρ’, ἐμὶν τὸ καλὸν πεφιλημένε, βόσκε τὰς αἶγας,
καὶ ποτὶ τὰν κράναν ἄγε, Τίτυρε· καὶ τὸν ἐνόρχαν,
τὸν Λιβυκὸν κνάκωνα, φυλάσσεο μή τυ κορύψῃ.                                           5
Ὦ χαρίεσσ’ Ἀμαρυλλί, τί μ’ οὐκέτι τοῦτο κατ’ ἄντρον
παρκύπτοισα καλεῖς, τὸν ἐρωτύλον; ἦ ῥά με μισεῖς;
ἦ ῥά γέ τοι σιμὸς καταφαίνομαι ἐγγύθεν ἦμεν,
νύμφα, καὶ προγένειος; ἀπάγξασθαί με ποησεῖς.
ἠνίδε τοι δέκα μᾶλα φέρω· τηνῶθε καθεῖλον                                                10
ὧ μ’ ἐκέλευ καθελεῖν τύ· καὶ αὔριον ἄλλα τοι οἰσῶ.
θᾶσαι μάν. θυμαλγὲς ἐμὶν ἄχος. αἴθε γενοίμαν
ἁ βομβεῦσα μέλισσα καὶ ἐς τεὸν ἄντρον ἱκοίμαν,
τὸν κισσὸν διαδὺς καὶ τὰν πτέριν ἅ τυ πυκάσδει.
νῦν ἔγνων τὸν Ἔρωτα· βαρὺς θεός· ἦ ῥα λεαίνας                                           15
μαζὸν ἐθήλαζεν, δρυμῷ τέ νιν ἔτραφε μάτηρ,
ὅς με κατασμύχων καὶ ἐς ὀστίον ἄχρις ἰάπτει.
ὦ τὸ καλὸν ποθορεῦσα, τὸ πᾶν λίθος, ὦ κυάνοφρυ
νύμφα, πρόσπτυξαί με τὸν αἰπόλον, ὥς τυ φιλήσω
ἔστι καὶ ἐν κενεοῖσι φιλήμασιν ἁδέα τέρψις.                                                    20
τὸν στέφανον τῖλαί με κατ’ αὐτίκα λεπτὰ ποησεῖς,
τόν τοι ἐγών, Ἀμαρυλλὶ φίλα, κισσοῖο φυλάσσω,
ἀμπλέξας καλύκεσσι καὶ εὐόδμοισι σελίνοις.

ὤμοι ἐγών, τί πάθω, τί ὁ δύσσοος; οὐχ ὑπακούεις.
τὰν βαίταν ἀποδὺς ἐς κύματα τηνῶ ἁλεῦμαι,                                                  25
ὧπερ τὼς θύννως σκοπιάζεται Ὄλπις ὁ γριπεύς·                   
καἴ κα δὴ ’ποθάνω, τό γε μὲν τεὸν ἁδὺ τέτυκται.
ἔγνων πρᾶν, ὅκα μοι, μεμναμένῳ εἰ φιλέεις με,
οὐδὲ τὸ τηλέφιλον ποτεμάξατο τὸ πλατάγημα,
ἀλλ’ αὔτως ἁπαλῷ ποτὶ πάχεϊ ἐξεμαράνθη.                                                    30
εἶπε καὶ Ἀγροιὼ τἀλαθέα κοσκινόμαντις,
ἁ πρᾶν ποιολογεῦσα παραιβάτις, οὕνεκ’ ἐγὼ μέν
τὶν ὅλος ἔγκειμαι, τὺ δέ μευ λόγον οὐδένα ποιῇ.
ἦ μάν τοι λευκὰν διδυματόκον αἶγα φυλάσσω,
τάν με καὶ ἁ Μέρμνωνος ἐριθακὶς ἁ μελανόχρως                                           35
αἰτεῖ· καὶ δωσῶ οἱ, ἐπεὶ τύ μοι ἐνδιαθρύπτῃ.
ἅλλεται ὀφθαλμός μευ ὁ δεξιός· ἆρά γ’ ἰδησῶ
αὐτάν; ᾀσεῦμαι ποτὶ τὰν πίτυν ὧδ’ ἀποκλινθείς,
καί κέ μ’ ἴσως ποτίδοι, ἐπεὶ οὐκ ἀδαμαντίνα ἐστίν.
Ἱππομένης, ὅκα δὴ τὰν παρθένον ἤθελε γᾶμαι,                                              40
μᾶλ’ ἐν χερσὶν ἑλὼν δρόμον ἄνυεν· ἁ δ’ Ἀταλάντα
ὡς ἴδεν, ὣς ἐμάνη, ὣς ἐς βαθὺν ἅλατ’ ἔρωτα.
τὰν ἀγέλαν χὠ μάντις ἀπ’ Ὄθρυος ἆγε Μελάμπους
ἐς Πύλον· ἁ δὲ Βίαντος ἐν ἀγκοίναισιν ἐκλίνθη
μάτηρ ἁ χαρίεσσα περίφρονος Ἀλφεσιβοίας.                                                 45
τὰν δὲ καλὰν Κυθέρειαν ἐν ὤρεσι μῆλα νομεύων
οὐχ οὕτως Ὥδωνις ἐπὶ πλέον ἄγαγε λύσσας,
ὥστ’ οὐδὲ φθίμενόν νιν ἄτερ μαζοῖο τίθητι;
ζαλωτὸς μὲν ἐμὶν ὁ τὸν ἄτροπον ὕπνον ἰαύων
Ἐνδυμίων· ζαλῶ δέ, φίλα γύναι, Ἰασίωνα,                                                     50
ὃς τόσσων ἐκύρησεν, ὅσ’ οὐ πευσεῖσθε, βέβαλοι.
Ἀλγέω τὰν κεφαλάν, τὶν δ’ οὐ μέλει. οὐκέτ’ ἀείδω,
κεισεῦμαι δὲ πεσών, καὶ τοὶ λύκοι ὧδέ μ’ ἔδονται.
ὡς μέλι τοι γλυκὺ τοῦτο κατὰ βρόχθοιο γένοιτο.




Tradução:

A Serenata

Serenato para Amarília, as minhas cabras
pastam pelo monte, Títiro a elas tange.
Oh Títiro, meu amado, paste bem as cabras
e para a fonte as conduza Títiro, e o bode inteiro,
O Líbio, cuida para ele não te montar.                                                            05
Ó Graciosa Amarília, porque não mais, pelo antro afora,
espiando o amante, me chamas? Me odeias?
Ou narigudo de perto te pareço ser,
Ninfa, e barbudo? Farás enforcar-me.
Eis que trago a ti dez maçãs. De lá colhi,                                                      10
de onde tu me ordenavas colher, e amanhã outras a ti trarei.
Admire a minha dor lancinante. Quem dera eu me tornasse
esta abelha que zune, para adentrar o teu antro,
penetrando a hera e a samambaia que te envolve.
Agora reconheço Eros, Deus grave, que na teta                                               15
da leoa mamou, e que na selva a mãe nutriu.
O que queima e até os ossos me aflige.
Ei tu, que olhas tão bela, toda pétrea. Ei ninfa de escuras
sobrancelhas, te debruça em mim, o cabreiro, para eu te beijar.
Existe também nos beijos vazios um doce deleite.                                         20
Desfiar esta coroa agora mesmo, me farás descascar.
A que para ti, querida Amarília, de heras preservei,
tendo trançados botões da rosa e o salsão perfumado.
Ai de mim, por que sofro, assim desamparado? Não me ouves.
Despindo esta veste, para as ondas eu me lançarei,                                        25
lá de onde espreita aos atuns, Ólpis o pescador.
E se eu morrer, certamente está feito a teu gosto.
Percebi há pouco, quando pensando para mim se me amas,
de modo algum a amor-ao-longe ao bater deu estalo,
mas simplesmente macia contra o braço murchou.[1]                            30
Disse verdades também a velha adivinha de peneiras,
a que ontem colhia ervas, Paraibátis. E eu a ti
todo prostrado, e tu não me dá importância nenhuma.
E para ti, uma branca cabra de gêmeas crias preservo,
a que a serva de Mérmnon, a morena,                                                 35
me pede, e darei, uma vez que tu me negaceias.
E lateja o meu olho direito, por ventura eu a verei, afinal?
Cantarei assim reclinado junto ao pinheiro,
e talvez ela repare em mim, uma vez que não é indomável:

Hipomêne, quando queria desposar a donzela,                                               40
levando maçãs nas mãos, fez a sua corrida e Atalanta
quando as viu, logo enlouqueceu, e se lançou para o profundo Eros.
O rebanho conduzia, de Otris, o adivinho Melampo,
para Pilos. Nos braços de Bia ele se aconchegou,
a graciosa mãe da ajuizada Alfesibéia.                                                            45
E a bela Citeréia, pastoreando muito pelas montanhas,
não foi assim que Adônis lançou-a no mais alto surto,
de modo que nem morrendo, à parte do peito ela o coloca?
Invejado por mim, o que repousa o sono irreversível,
Endimião; invejo também, querida mulher, Jasião,                                         50
o que obteve tanto, quanto vós, não iniciados, nunca sabereis.
Dói a minha cabeça, mas a ti não importa, mais não canto.
Ao cair, fico, e os lobos assim me comerão,
E que para ti isto venha a ser como mel doce em tua garganta



[1] Jogo de adivinhação amorosa do tipo ‘bem me quer, mal me quer’.

quarta-feira, agosto 06, 2014

Prometeu Desprendido - Shelley

DEM.
This is the day, which down the void abysm
At the Earth-born's Spell yawns for Heaven's despotism, [4.555]
   And Conquest is dragged captive through the deep:
Love, from its awful throne of patient power
In the wise heart, from the last giddy hour
   Of dread endurance, from the slippery, steep,
And narrow verge of crag-like agony, springs [4.560]
And folds over the world its healing wings.

Gentleness, Virtue, Wisdom, and Endurance,
These are the seals of that most firm assurance
   Which bars the pit over Destruction's strength;
And if, with infirm hand, Eternity, [4.565]
Mother of many acts and hours, should free
   The serpent that would clasp her with his length;
These are the spells by which to reassume
An empire o'er the disentangled doom.

To suffer woes which Hope thinks infinite; [4.570]
To forgive wrongs darker than death or night;
   To defy Power, which seems omnipotent;
To love, and bear; to hope till Hope creates
From its own wreck the thing it contemplates;
   Neither to change, nor falter, nor repent; [4.575]
This, like thy glory, Titan, is to be
Good, great and joyous, beautiful and free;
This is alone Life, Joy, Empire, and Victory.





DEM.
Este é o dia, que pelo abismo vazio abaixo
No que brota da terra o Encanto boceja pelo despotismo do Céu,
  E a Conquista é arrastada cativa pelas profundezas:
Amor, do seu medonho trono de poder paciente
No coração sábio, da última hora leviana
   De demora morta, da escorregadia, íngreme,
E estreita beira da agonia escarpada, brota
E encobre por cima o mundo com suas asas curativas.

Gentileza, Virtude, Sabedoria e Perseverança
Estes são os selos daquela mais firme certeza
 Que barram o abismo que cobre a força da Destruição;
E se, com mãos abaladas, Eternidade,
Mãe de tantos atos e horas, deve libertar
  A serpente que a apertaria em seu comprimento;
Estes são os encantos pelos quais reassumir
A um império e a uma desatada perdição.

Para sofrer aflições que a Esperança considera infinitas;
Para perdoar erros mais escuros do que a morte ou a noite;
  Para desafiar o Poder, que parece onipotente;
Para amar, e apoiar; para esperar até a Esperança criar,
dos seus próprios destroços, o objeto que ela contempla;
  Não mudar, nem vacilar, nem arrepender;
Isto, como tua glória, Titã, é para ser
Bom, grandioso e feliz, bonito e livre;
Isto só é Vida, Prazer, Império, e Vitória"

FIM

terça-feira, abril 08, 2014

Matutina



Acordo,
do embaçado na vista
uma forma se firma.
Do amarelo em crina, o creme da pele.
Brota o brilho rubro nos lábios
e um perfume que exala ritmado.
De repente, dois olhos de um azul profundo,
quase violeta,
me entregam um sorriso preguiçoso
e a garantia da existência

segunda-feira, março 31, 2014

Odisséia Canto XIX - Fala da Euricléia - Versos 361 - 381

Mais um fragmento homérico, este é um lamento da escrava pelo e para Odisseu, que estava disfarçado de mendigo na sua frente. Acabou saindo como se ela já tivesse o reconhecido, mas maneirasse no discurso. Esse tom não foi proposital, o lance é que ela começa se dirigindo a Odisseu como numa prece e depois se dirige ao mendigo sem muita separação.



Odisséia Canto XIX - Fala da Euricléia
Versos 361 - 381

Assim então falou E a velha cobriu com as mão a face
Lágrimas caíram quentes E palavras doloridas disse:
“Ai de mim eu de ti Filho desamparado Que Zeus
dentre os homens odiou com um ânimo devoto
Pois ainda nenhum dos mortais a Zeus relâmpago
Gordas partes queimou Nem excelentes hecatombes
Quantas tu a ele oferecia Orando para que pudesse chegar
a velho ilustre e criar um brilhante filho
E agora só a ti priva totalmente o dia do retorno
Assim também ausente zombavam dele as mulheres
de estrangeiros de terras distantes Se chegasse numa casa nobre
Como de ti todas estas cadelas zombam
Tu que agora evitando o insulto e as ofensas
não permites ser lavado Mas comigo sem relutar ordenou
a jovem de Ícaro Prudente Penélope
Por isso vou-te os pés lavar Por causa dela Penélope
e tua Uma vez que me comove dentro o íntimo
com tristezas Mas vá agora ouça a palavra Esta que falo
Muitos estrangeiros experimentados aqui chegaram
Mas de modo algum declaro um parecido assim na vista
Como tu no porte na voz e nos pés com Odisseu parece”


domingo, março 30, 2014

Cera de Ouvido



Ouvir o discurso primal
é inútil.
O sentido não está proposto,
escutado é que se forma.

Para divergir são infinitos modos,
para convergir é um só.
Existe uma proposta que não se pode recusar,

e ela vai escorrer pelos ouvidos e
parar teu coração.

Singularidade


A superação sempre vem a ser,
e assim nunca supera a si mesma.
Teria a nossa condição o seu próprio fundamento?
O limite serve o finito da experiência.
Nada é de fato separado,
mas tudo vem com suas fronteiras.
Ao acaso, a determinação,
ao propósito, a sua finalidade.
Tudo que escapa do alcance
se une ao ilimitado.
Aceitando a medida ou o impasse,
criamos as ferramentas do abandono
e agora que o pensar vai pensar o pensamento,
nós vamos ficar cada vez menores.

domingo, fevereiro 23, 2014

Lógos


No segundo mundo
a crescência vibra
um vulcão virulento

pistas de um enigma
peças para um encaixe
rastros do próximo alvo
inconhecido mas desvelado





Onírio


À sombra de um relógio sem ponteiros
me vi perdido entre as vielas desertas,
o suor me escorria pela testa e a procissão rompia,
na claridade de um cortejo fúnebre,
a insistência que me deixou aleijado.

Um homem desfeito se volta para mim
e derrete como parafina no concreto poroso.
A carruagem pára e a tampa se abre,
Dentro não há nada além de tudo,
nem caberia outro pois foi feito na medida
das dores e dos pesares meus e de quem amei.