quarta-feira, novembro 26, 2014

Idílio III - A Serenata - Teócrito


    Este idílio apresenta como personagem principal um cabreiro que não é nomeado e que está perdidamente apaixonado por uma Ninfa chamada Amarília. Ele entrega suas cabras para o amigo Títiro pastorear, enquanto ele próprio faz uma serenata na porta da caverna da Ninfa. Não existem indicações claras do local em que o poema se passa. O poema é um monólogo, mas que guarda a forma de diálogo dos mimos antigos pelo uso de um interlocutor mudo. O apelo a Amarília pode ser divido em três partes que terminam com a oferta de um presente específico (maçãs, coroa de flores e uma cabra) e uma quarta parte que contém uma canção de amor. O poema configura uma versão rústica do chamado komós, que é quando um ou mais jovens, muitas vezes bêbados, percorrem a cidade até a casa de alguém para cantar à sua porta.




ΘΕΟΚΡΙΤΟΥ - ΚΩΜΟΣ


Κωμάσδω ποτὶ τὰν Ἀμαρυλλίδα, ταὶ δέ μοι αἶγες
βόσκονται κατ’ ὄρος, καὶ ὁ Τίτυρος αὐτὰς ἐλαύνει.
Τίτυρ’, ἐμὶν τὸ καλὸν πεφιλημένε, βόσκε τὰς αἶγας,
καὶ ποτὶ τὰν κράναν ἄγε, Τίτυρε· καὶ τὸν ἐνόρχαν,
τὸν Λιβυκὸν κνάκωνα, φυλάσσεο μή τυ κορύψῃ.                                           5
Ὦ χαρίεσσ’ Ἀμαρυλλί, τί μ’ οὐκέτι τοῦτο κατ’ ἄντρον
παρκύπτοισα καλεῖς, τὸν ἐρωτύλον; ἦ ῥά με μισεῖς;
ἦ ῥά γέ τοι σιμὸς καταφαίνομαι ἐγγύθεν ἦμεν,
νύμφα, καὶ προγένειος; ἀπάγξασθαί με ποησεῖς.
ἠνίδε τοι δέκα μᾶλα φέρω· τηνῶθε καθεῖλον                                                10
ὧ μ’ ἐκέλευ καθελεῖν τύ· καὶ αὔριον ἄλλα τοι οἰσῶ.
θᾶσαι μάν. θυμαλγὲς ἐμὶν ἄχος. αἴθε γενοίμαν
ἁ βομβεῦσα μέλισσα καὶ ἐς τεὸν ἄντρον ἱκοίμαν,
τὸν κισσὸν διαδὺς καὶ τὰν πτέριν ἅ τυ πυκάσδει.
νῦν ἔγνων τὸν Ἔρωτα· βαρὺς θεός· ἦ ῥα λεαίνας                                           15
μαζὸν ἐθήλαζεν, δρυμῷ τέ νιν ἔτραφε μάτηρ,
ὅς με κατασμύχων καὶ ἐς ὀστίον ἄχρις ἰάπτει.
ὦ τὸ καλὸν ποθορεῦσα, τὸ πᾶν λίθος, ὦ κυάνοφρυ
νύμφα, πρόσπτυξαί με τὸν αἰπόλον, ὥς τυ φιλήσω
ἔστι καὶ ἐν κενεοῖσι φιλήμασιν ἁδέα τέρψις.                                                    20
τὸν στέφανον τῖλαί με κατ’ αὐτίκα λεπτὰ ποησεῖς,
τόν τοι ἐγών, Ἀμαρυλλὶ φίλα, κισσοῖο φυλάσσω,
ἀμπλέξας καλύκεσσι καὶ εὐόδμοισι σελίνοις.

ὤμοι ἐγών, τί πάθω, τί ὁ δύσσοος; οὐχ ὑπακούεις.
τὰν βαίταν ἀποδὺς ἐς κύματα τηνῶ ἁλεῦμαι,                                                  25
ὧπερ τὼς θύννως σκοπιάζεται Ὄλπις ὁ γριπεύς·                   
καἴ κα δὴ ’ποθάνω, τό γε μὲν τεὸν ἁδὺ τέτυκται.
ἔγνων πρᾶν, ὅκα μοι, μεμναμένῳ εἰ φιλέεις με,
οὐδὲ τὸ τηλέφιλον ποτεμάξατο τὸ πλατάγημα,
ἀλλ’ αὔτως ἁπαλῷ ποτὶ πάχεϊ ἐξεμαράνθη.                                                    30
εἶπε καὶ Ἀγροιὼ τἀλαθέα κοσκινόμαντις,
ἁ πρᾶν ποιολογεῦσα παραιβάτις, οὕνεκ’ ἐγὼ μέν
τὶν ὅλος ἔγκειμαι, τὺ δέ μευ λόγον οὐδένα ποιῇ.
ἦ μάν τοι λευκὰν διδυματόκον αἶγα φυλάσσω,
τάν με καὶ ἁ Μέρμνωνος ἐριθακὶς ἁ μελανόχρως                                           35
αἰτεῖ· καὶ δωσῶ οἱ, ἐπεὶ τύ μοι ἐνδιαθρύπτῃ.
ἅλλεται ὀφθαλμός μευ ὁ δεξιός· ἆρά γ’ ἰδησῶ
αὐτάν; ᾀσεῦμαι ποτὶ τὰν πίτυν ὧδ’ ἀποκλινθείς,
καί κέ μ’ ἴσως ποτίδοι, ἐπεὶ οὐκ ἀδαμαντίνα ἐστίν.
Ἱππομένης, ὅκα δὴ τὰν παρθένον ἤθελε γᾶμαι,                                              40
μᾶλ’ ἐν χερσὶν ἑλὼν δρόμον ἄνυεν· ἁ δ’ Ἀταλάντα
ὡς ἴδεν, ὣς ἐμάνη, ὣς ἐς βαθὺν ἅλατ’ ἔρωτα.
τὰν ἀγέλαν χὠ μάντις ἀπ’ Ὄθρυος ἆγε Μελάμπους
ἐς Πύλον· ἁ δὲ Βίαντος ἐν ἀγκοίναισιν ἐκλίνθη
μάτηρ ἁ χαρίεσσα περίφρονος Ἀλφεσιβοίας.                                                 45
τὰν δὲ καλὰν Κυθέρειαν ἐν ὤρεσι μῆλα νομεύων
οὐχ οὕτως Ὥδωνις ἐπὶ πλέον ἄγαγε λύσσας,
ὥστ’ οὐδὲ φθίμενόν νιν ἄτερ μαζοῖο τίθητι;
ζαλωτὸς μὲν ἐμὶν ὁ τὸν ἄτροπον ὕπνον ἰαύων
Ἐνδυμίων· ζαλῶ δέ, φίλα γύναι, Ἰασίωνα,                                                     50
ὃς τόσσων ἐκύρησεν, ὅσ’ οὐ πευσεῖσθε, βέβαλοι.
Ἀλγέω τὰν κεφαλάν, τὶν δ’ οὐ μέλει. οὐκέτ’ ἀείδω,
κεισεῦμαι δὲ πεσών, καὶ τοὶ λύκοι ὧδέ μ’ ἔδονται.
ὡς μέλι τοι γλυκὺ τοῦτο κατὰ βρόχθοιο γένοιτο.




Tradução:

A Serenata

Serenato para Amarília, as minhas cabras
pastam pelo monte, Títiro a elas tange.
Oh Títiro, meu amado, paste bem as cabras
e para a fonte as conduza Títiro, e o bode inteiro,
O Líbio, cuida para ele não te montar.                                                            05
Ó Graciosa Amarília, porque não mais, pelo antro afora,
espiando o amante, me chamas? Me odeias?
Ou narigudo de perto te pareço ser,
Ninfa, e barbudo? Farás enforcar-me.
Eis que trago a ti dez maçãs. De lá colhi,                                                      10
de onde tu me ordenavas colher, e amanhã outras a ti trarei.
Admire a minha dor lancinante. Quem dera eu me tornasse
esta abelha que zune, para adentrar o teu antro,
penetrando a hera e a samambaia que te envolve.
Agora reconheço Eros, Deus grave, que na teta                                               15
da leoa mamou, e que na selva a mãe nutriu.
O que queima e até os ossos me aflige.
Ei tu, que olhas tão bela, toda pétrea. Ei ninfa de escuras
sobrancelhas, te debruça em mim, o cabreiro, para eu te beijar.
Existe também nos beijos vazios um doce deleite.                                         20
Desfiar esta coroa agora mesmo, me farás descascar.
A que para ti, querida Amarília, de heras preservei,
tendo trançados botões da rosa e o salsão perfumado.
Ai de mim, por que sofro, assim desamparado? Não me ouves.
Despindo esta veste, para as ondas eu me lançarei,                                        25
lá de onde espreita aos atuns, Ólpis o pescador.
E se eu morrer, certamente está feito a teu gosto.
Percebi há pouco, quando pensando para mim se me amas,
de modo algum a amor-ao-longe ao bater deu estalo,
mas simplesmente macia contra o braço murchou.[1]                            30
Disse verdades também a velha adivinha de peneiras,
a que ontem colhia ervas, Paraibátis. E eu a ti
todo prostrado, e tu não me dá importância nenhuma.
E para ti, uma branca cabra de gêmeas crias preservo,
a que a serva de Mérmnon, a morena,                                                 35
me pede, e darei, uma vez que tu me negaceias.
E lateja o meu olho direito, por ventura eu a verei, afinal?
Cantarei assim reclinado junto ao pinheiro,
e talvez ela repare em mim, uma vez que não é indomável:

Hipomêne, quando queria desposar a donzela,                                               40
levando maçãs nas mãos, fez a sua corrida e Atalanta
quando as viu, logo enlouqueceu, e se lançou para o profundo Eros.
O rebanho conduzia, de Otris, o adivinho Melampo,
para Pilos. Nos braços de Bia ele se aconchegou,
a graciosa mãe da ajuizada Alfesibéia.                                                            45
E a bela Citeréia, pastoreando muito pelas montanhas,
não foi assim que Adônis lançou-a no mais alto surto,
de modo que nem morrendo, à parte do peito ela o coloca?
Invejado por mim, o que repousa o sono irreversível,
Endimião; invejo também, querida mulher, Jasião,                                         50
o que obteve tanto, quanto vós, não iniciados, nunca sabereis.
Dói a minha cabeça, mas a ti não importa, mais não canto.
Ao cair, fico, e os lobos assim me comerão,
E que para ti isto venha a ser como mel doce em tua garganta



[1] Jogo de adivinhação amorosa do tipo ‘bem me quer, mal me quer’.

Nenhum comentário: