terça-feira, janeiro 12, 2016

Teócrito - Idílio VI - Dáfnis e Dametas


Teócrito dedica o poema a Aratos, personagem que aparece no Idílio VII. A cena se passa ao meio-dia de verão, em uma fonte de água fresca nas pastagens. Os personagens Dáfnis e Damoetas se encontram nesse ponto e partem para uma disputa amigável de canções bucólicas. Cada personagem canta uma canção separada por verso de transição (v 20). Após uma breve introdução (v 1-5), Dáfnis canta para Polifemo como a Ninfa Galatéia está fazendo de tudo para atrair a atenção e o amor do ciclope mas ele parece não se dar conta (v 6 – 19). Damoetas, por sua vez, personifica Polifemo e declara na canção que ele vê sim o que a Ninfa está fazendo e que a sua indiferença é consciente, já que seria uma maneira dele assegurar esse amor (v 21 – 40). Uma breve narrativa anuncia que a disputa chegou ao fim sem vencedor, mas em perfeita harmonia (v 41- 46). A menção a uma previsão odiosa de um adivinho chamado Télemo no verso 23 é possivelmente uma curiosa referência ao futuro cegamento que ocorrerá ao ciclope no que é narrado por Homero na Odisséia. 


Idílio VI

ΘΕΟΚΡΙΤΟΥ ΒΟΥΚΟΛΙΑΣΤΑΙ
ΔΑΜΟΙΤΑΣ ΚΑΙ ΔΑΦΝΙΣ

Δαμοίτας καὶ Δάφνις ὁ βουκόλος εἰς ἕνα χῶρον                                            
τὰν ἀγέλαν ποκ’, Ἄρατε, συνάγαγον· ἦς δ’ ὃ μὲν αὐτῶν
πυρρός, ὃ δ’ ἡμιγένειος· ἐπὶ κράναν δέ τιν’ ἄμφω
ἑσδόμενοι θέρεος μέσῳ ἄματι τοιάδ’ ἄειδον.
πρᾶτος δ’ ἄρξατο Δάφνις, ἐπεὶ καὶ πρᾶτος ἔρισδεν.                                       5

ΔΑΦΝΙΣ
βάλλει τοι, Πολύφαμε, τὸ ποίμνιον ἁ Γαλάτεια
μάλοισιν, δυσέρωτα καὶ αἰπόλον ἄνδρα καλεῦσα·
καὶ τύ νιν οὐ ποθόρησθα, τάλαν τάλαν, ἀλλὰ κάθησαι
ἁδέα συρίσδων. πάλιν ἅδ’, ἴδε, τὰν κύνα βάλλει,
ἅ τοι τᾶν ὀίων ἕπεται σκοπός· ἃ δὲ βαΰσδει                                                   10       
εἰς ἅλα δερκομένα, τὰ δέ νιν καλὰ κύματα φαίνει
ἅσυχα καχλάζοντος ἐπ’ αἰγιαλοῖο θέοισαν.
φράζεο μὴ τᾶς παιδὸς ἐπὶ κνάμαισιν ὀρούσῃ
ἐξ ἁλὸς ἐρχομένας, κατὰ δὲ χρόα καλὸν ἀμύξῃ.
ἃ δὲ καὶ αὐτόθε τοι διαθρύπτεται· ὡς ἀπ’ ἀκάνθας                                         15
ταὶ καπυραὶ χαῖται, τὸ καλὸν θέρος ἁνίκα φρύγει,
καὶ φεύγει φιλέοντα καὶ οὐ φιλέοντα διώκει,
καὶ τὸν ἀπὸ γραμμᾶς κινεῖ λίθον· ἦ γὰρ ἔρωτι
πολλάκις, ὦ Πολύφαμε, τὰ μὴ καλὰ καλὰ πέφανται.

Τῷ δ’ ἐπὶ Δαμοίτας ἀνεβάλλετο καὶ τάδ’ ἄειδεν.                                            20

ΔΑΜΟΙΤΑΣ
εἶδον, ναὶ τὸν Πᾶνα, τὸ ποίμνιον ἁνίκ’ ἔβαλλε,
κοὔ μ’ ἔλαθ’, οὐ τὸν ἐμὸν τὸν ἕνα γλυκύν, ᾧ ποθορῷμι
ἐς τέλος (αὐτὰρ ὁ μάντις ὁ Τήλεμος ἔχθρ’ ἀγορεύων
ἐχθρὰ φέροι ποτὶ οἶκον, ὅπως τεκέεσσι φυλάσσοι)·
ἀλλὰ καὶ αὐτὸς ἐγὼ κνίζων πάλιν οὐ ποθόρημι,                                             25
ἀλλ’ ἄλλαν τινὰ φαμὶ γυναῖκ’ ἔχεν· ἃ δ’ ἀίοισα
ζαλοῖ μ’, ὦ Παιάν, καὶ τάκεται, ἐκ δὲ θαλάσσας
οἰστρεῖ παπταίνοισα ποτ’ ἄντρα τε καὶ ποτὶ ποίμνας.
σίξα δ’ ὑλακτεῖν νιν καὶ τᾷ κυνί· καὶ γὰρ ὅκ’ ἤρων,
αὐτᾶς ἐκνυζεῖτο ποτ’ ἰσχία ῥύγχος ἔχοισα                                                       30
ταῦτα δ’ ἴσως ἐσορεῦσα ποεῦντά με πολλάκι πεμψεῖ
ἄγγελον. αὐτὰρ ἐγὼ κλᾳξῶ θύρας, ἔστε κ’ ὀμόσσῃ
αὐτά μοι στορεσεῖν καλὰ δέμνια τᾶσδ’ ἐπὶ νάσω·
καὶ γάρ θην οὐδ’ εἶδος ἔχω κακὸν ὥς με λέγοντι.
ἦ γὰρ πρᾶν ἐς πόντον ἐσέβλεπον, ἦς δὲ γαλάνα,                                             35
καὶ καλὰ μὲν τὰ γένεια, καλὰ δέ μευ ἁ μία κώρα,
ὡς παρ’ ἐμὶν κέκριται, κατεφαίνετο, τῶν δέ τ’ ὀδόντων
λευκοτέραν αὐγὰν Παρίας ὑπέφαινε λίθοιο.
ὡς μὴ βασκανθῶ δέ, τρὶς εἰς ἐμὸν ἔπτυσα κόλπον·
ταῦτα γὰρ ἁ γραία με Κοτυτταρὶς ἐξεδίδαξε                                                    40
[ἃ πρᾶν ἀμάντεσσι παρ’ Ἱπποκίωνι ποταύλει].
Τόσσ’ εἰπὼν τὸν Δάφνιν ὁ Δαμοίτας ἐφίλησε·
χὢ μὲν τῷ σύριγγ’, ὃ δὲ τῷ καλὸν αὐλὸν ἔδωκεν.
αὔλει Δαμοίτας, σύρισδε δὲ Δάφνις ὁ βούτας·
ὠρχεῦντ’ ἐν μαλακᾷ ταὶ πόρτιες αὐτίκα ποίᾳ.                                                 45
νίκη μὲν οὐδάλλος, ἀνήσσατοι δ’ ἐγένοντο



Tradução Idílio - VI
Os Bucoliastas Dáfnis e Dametas

Dametas e Dáfnis, o bucólico, para uma mesma terra
o rebanho certa vez, ó Arato, juntos conduziram. Era um deles
afogueado e o outro de barba rala, junto a fonte ambos
sentados ao meio dia de verão, eles cantavam.
Primeiro começou Dáfnis, uma vez que primeiro desafiou:                            05

"Lança para o teu rebanho, ó Polifemo, Galatéia
as maçãs, chamando-te de cabreiro desamado.
E tu agora nem olhas para ela, pobre pobre, e continuas assim,
doce na siringe, e ela em resposta, vê só, joga para a cachorra também,
a que te segue como uma vigia das ovelhas, e ela então late                        10
encarando o mar e a ela as belas ondas refletem,
calmas e ressoantes, enquanto corre pela beira do mar.
Cuide para que ela não se lance sobre as canelas da moça
que emerge marítima, para que não lhe arranhe a bela pele.
E de lá também ela te provoca, como do cardo                                             15
a seca folhagem, quando o verão abrasa tal beleza.
E foge quando ele a ama, e o persegue quando ele não a ama.
E a partir da linha move a pedra°. Pois de fato com o Eros,
muitas vezes, ó Polifemo, as não belas, belas se revelam”

Depois disso, Dametas também lançou-se a cantar:                                      20

“Vi sim, por Pã, quando acertou o rebanho,
não me escapou, não ao meu único e doce olho, e que com ele eu olhe
até o fim, e que o adivinho Télemo, que prediz coisas odiosas,
leve essas odiosas para casa e asssim guarde-as para seus filhos.
E eu também provocando-a de volta não olho,                                          25
e alguma outra mulher digo ter, e ela ouvindo-me,
tem ciúme, ó Pã, e se desfaz, e saindo do mar
se enfurece e fica olhando para os antros e os rebanhos.
Eu também estumei a cachorra a latir para ela, pois quando a amava
ela chorava trazendo o focinho para junto do quadril.                                    30
Talvez, me vendo fazer estas coisas, ela enviará
um mensageiro, Eu então fecharei as portas até que ela jure
para mim que vai estender os belos leitos sobre essa ilha,
pois nem mesmo tenho uma forma feia, como falam de mim,
e ontem mesmo, olhava para o mar e havia uma calma,                                  35
e bela a barba e bela a minha única pupila,
como por mim era julgada e ele refletia o brilho de meus dentes,
mais branco do que o que aparecia na pedra de Paros.
E para que não seja invejado, cuspi três vezes contra o meu peito
Pois essas coisas, a velha Cotitáris me ensinou”                                             40
...........................................................................
Estas dizendo, Dametas ao Dáfnis beijou,
ele dá a este uma siringe, este dá a aquele, um aulo,
logo dançavam na relva macia os jovens garrotes,                                          45
vitória de nenhum, invictos tornaram-se.




° Provérbio retirado de um jogo de tabuleiro (πεσσεια), no qual o tabuleiro é marcado com 5 linhas e o movimento de um marcador fora da linha sagrada era marca de desespero e quase derrota.

Um comentário:

Margarida Assis disse...

Obrigada pela partilha do seu trabalho! Muito útil!