Para reviver isso aqui, um continho que escrevi um tempo atrás.
Ato I
Ele era uma vez um menino.
Cuidava de ser verdadeiro e leal.
Respondia aos gestos bons
e aos maus não revidava.
Por isso sempre sofria.
Seu ritmo lento
e cadenciado,
denotava uma certa melancolia.
Sem dividir,
seus sofrimentos se inteiravam.
Preferia assim
a espalhá-los por aí.
Sempre acreditou na sorte.
E assim, ao acaso,
encontrou uma menina.
Aos olhos, a mais linda até ali.
Atento, refletiu sobre a beleza.
"As coisas belas são difíceis"
dizia o antigo provérbio.
Pensou no seu verdadeiro sentido.
Não era só "difícil",
era algo de improvável,
pérfido ou complicado.
Prezava por simplicidade,
mas ao gesto favorável,
retribuiu.
Quis procurar,
não a beleza que estala nos olhos,
mas a que se pendura no coração.
E viu lá dentro, essa luz.
E ficou surpreso.
Tal claridade.
Assim ficou,
contemplou.
Desejou que caminhassem juntos.
Foram.
Ato II
De repente, uma bifurcação.
Placas indicando caminhos.
Um era o comum
que ambos vinham percorrendo.
O outro era diferente,
levava a lugares desconhecidos
e distantes.
Ele não quis desviar,
achando o curso seguido até ali,
mais direto e simples.
O outro, apesar de fascinante,
era estranho e difícil.
A menina de repente parou.
Observou a escura trilha
que desviava.
Voltou para ao menino,
que observava aflito,
pressentindo alguma mudança.
Ela pareceu medir,
pesar a sua própria realidade.
Feito o juízo, largou a mão
e foi sozinha.
Ato III
Desamparado,
o menino sentou e esperou.
"É só para observar" pensou,
"Assim que ver
o que tem depois da curva
ela volta."
Mas o dia caía solto,
e a chegada da noite
já se fazia sentir nas redondezas.
Ele quase não a divisava mais,
pelo caminho.
Foi então que percebeu,
a espera era vã
como toda esperança.
Ela foi por querer andar sozinha.
E caminhava bem assim.
Ela não olhou para trás.
Não até perceber que estava longe o suficiente.
E muito mal pôde ver de lá,
Um homem que se levantava,
e continuava a andar.
Lentamente
e sem apoio.
FIM