O que segue é um texto obscuro possivelmente escrito nos primeiros séculos da nossa era. Obra única e completa desse autor Hérmias, ela pretende ridicularizar toda a filosofia grega e suas doutrinas. A referência bíblica no primeiro parágrafo pode ter sido acrescentada posteriormente, na tentativa de transformá-lo numa apologia cristã. A tradução foi feita privilegiando a forma do original. Assim lê-se melhor junto ao texto grego.
Escárnio Dos Filósofos Gregos – Hérmias
Tradução direto do grego por Alexandre Magalhães
1- Paulo, o bem aventurado apóstolo, aos vizinhos Coríntios, da Grécia, na Lacônia, escrevendo “Queridos”, esclareceu dizendo: “A sabedoria deste mundo é loucura para o Deus”. Não levianamente falando, pois me parece compreender a origem desta a partir da apostasia dos anjos. Por esta causa, nem consoante nem homologamente os filósofos uns para os outros seus dogmas expuseram.
2- Pois uns dizem, a alma deles ser o fogo, outros o ar, outros ainda a inteligência, outros o movimento, uns a exalação, outros a potência que flui dos astros, uns o número motor, outros a água geradora, uns o elemento vindo dos elementos, outros a harmonia, uns o sangue, outros o sopro, outros ainda a unidade, e os antigos as coisas contrárias. Quantos discursos sobre, numerosas manipulações, quantos debates dos sofistas, que discutiam mais do que coisas verdadeiras encontravam.
3- Mas que assim seja; Divergem sobre a essência da alma. Concordando sobre o resto, esclareceram; Uns chamam o prazer dela um certo bem, outros um mal, outros ainda, no meio do bem e do mal, e a natureza dela uns dizem imortal, outros mortal, uns por pouco subsistindo, outros bestificando ela, uns em átomos dissolvendo, alguns por três vezes a encarnam, outros um período de três mil anos determinam para ela. Pois também os que nem por cem anos vivem, sobre os três mil anos futuros proclamam.
4- Estas coisas então, o que convém chamar? Como a mim parece, fábula ou ignorância ou loucura ou separado ou tudo junto. Se coisas verdadeiras têm descoberto, que concordem ou dêem junto seu assentimento, e eu então satisfeito, por eles serei convencido. Mas se puxam a alma, e outros esticam para outra natureza, e de diferentes essências para diferentes essências, a matéria, de outra matéria transformam, admito ficar aflito com o refluxo das coisas. Agora sou imortal e me alegro. Agora mortal me torno e choro; em seguida para átomos me dissolvo, água me torno, ar me torno, fogo me torno. Um pouco depois, nem ar nem fogo, fera me faz, peixe me faz; Logo, como irmãos tenho golfinhos. Quando vejo a mim mesmo, temo o corpo e não sei como chamá-lo, homem ou cão ou lobo ou touro ou ave ou cobra ou dragão ou quimera. Pois para todas as feras sou transformado pelos que filosofam, terrestres, aquáticas, polimorfas, selvagens, domésticas, mudas, cantoras, irracionais, racionais. Nado, vôo, rastejo, corro, pouso. O Empédocles ainda, arbusto me faz.
5- Assim se a alma do homem, em acordo, não é possível aos filósofos encontrar, dificilmente então a respeito dos deuses ou sobre o cosmo poderiam verdades declarar. Pois tem esta, a coragem, se não digo uma estupidez. Pois os que não são capazes de encontrar a própria alma, procuram a natureza dos próprios deuses, e os que o próprio corpo não vêem, trabalham com a natureza do cosmo.
6- Divergem então completamente entre si sobre a origem da natureza. Quando Anaxágoras pega-me, isto me ensina: ”O principio de tudo o intelecto, e este a causa e o senhor do todo, proporciona classificação aos inclassificados, movimento aos imóveis, separação aos misturados e ordenação aos desordenados”. Dizendo estas coisas Anaxágoras é para mim um amigo e com o dogma me convenço. Mas nisto, contradiz Melisso e Parmênides. Com palavras poéticas o Parmênides mesmo anuncia ser uma, a essência da alma, invisível, imóvel, semelhante em tudo. Para este dogma então, não sei como, de novo me mudo.
7- O Parmênides expulsou o Anaxágoras do meu pensamento. Quando penso ter imóveis meus dogmas, Anaxímenes tomando-me retruca: ”Mas eu a ti digo, o pan é o ar, e este se tornando espesso e juntando, água e terra se torna, se tornando rarefeito e espalhando, éter e fogo, retornando o ar para a natureza dele próprio”. E de novo, outra vez, a isto me harmonizo e ao Anaxímenes fico amigo.
8- O Empédocles, em oposição, se ergue ralhando e gritando muito do fundo do Etna: ”O princípio de tudo é o ódio e o amor, o que une e o que separa; e a disputa deles faz a tudo. Determino estas semelhantes e dessemelhantes, ilimitadas e tendo limite, eternas e geradas”. Muito bem Empédocles, sigo contigo até mesmo das crateras do fogo.
9- Mas do outro lado Protágoras tendo se erguido, puxa-me dizendo: ”A medida e o critério das coisas é o homem, destas as subordinadas às sensações são as coisas, as não subordinadas não estão nas formas da essência. Sendo adulado pelo Protágoras, com este discurso me alegro. Pois o tudo ou a maior parte dele ao homem atribui.
10- De outro lugar, Thales a mim sinaliza a verdade, determinando a água, de tudo princípio. E do úmido tudo é constituído, e para o úmido tudo se dissolve, e a terra paira sobre a água. Porque então agora não sou convencido por Thales, o mais antigo dos Jônios? Mas o concidadão dele, Anaximandro, o princípio mais antigo do que o úmido diz ser o eterno movimento e neste as coisas são geradas e são destruídas. Assim então, que seja o Anaximandro confiável.
11- E por outro lado não concorda Arquelao, esclarecendo os princípios do todo o calor, e o frio? Mas a ele, de novo, o vozeirão de Platão não homologa, dizendo ser os princípios Deus, matéria e paradigma. Agora então estou convencido. Pois como não vou acreditar no filósofo que fez o carro de Zeus? Atrás, o dele discípulo Aristóteles ergue-se invejando o mestre da feitura de carros. Este, princípios outros determina, o fazer e o sofrer. O que faz ser apático, o éter, e o que sofre ter quatro qualidades, securas, umidades, calores e friagens; pois na transformação destas para outras tudo vem a ser, e se corrompe.
12- Estamos cansados já de sermos lançados para cima e para baixo pelos dogmas. A menos que sobre o saber do Aristóteles eu me atenha e jamais a mim um discurso perturbe. Mas o que ainda eu poderia sofrer? Pois os mais antigos destes velhos puxam a minha alma pelos nervos. Ferecides dizendo o principio ser Zeus, Ctônia e Crono; Zeus o éter, Ctônia a terra e Crono o tempo; O éter o que faz, a terra o que sofre e o tempo no qual as coisas vem a ser. A rivalidade dos velhos uns com os outros. Pois as coisas, de fato todas, o Leucipo considerando bobagem diz ser o princípio as coisas infinitas, sempre móveis e minúsculas; as mais sutis mudando para cima se transformar em fogo e água, as mais pesadas para baixo ficando água e terra.
13- Até quando estas coisas sou ensinado, nada verdadeiro aprendendo? Exceto se de algum modo Demócrito me retira do divagar declarando o princípio ser e o não ser, o ser pleno, o não ser vazio. O cheio faz, com evolução ou ritmo, todas as coisas no vazio. Igualmente me convenceria com o belo Demócrito e desejaria junto a ele sorrir, se não me persuadisse chorando Heráclito dizendo junto: “O princípio do todo o fogo, dois os estados dele, rarefeito e espesso, o que faz e o que padece, o que separa e o que junta.” Suficientemente tenho para mim, e já me embriago com estes princípios.
14- Mas me pede de lá Epicuro jamais ultrajar a sua bela doutrina dos átomos e do vazio; pois destes, com entrelaçamento variado e multiforme as coisas todas são geradas e destruídas. Não contradigo a ti, melhor dos homens Epicuro; Mas Cleanto, do poço levantando a cabeça ridiculariza da tua doutrina, ele pesca os verdadeiros princípios, Deus e matéria. A terra para água transformar, a água para ar, o ar para cima ser levado, o fogo para a periferia da terra mover, a alma pelo todo do cosmo espalhar, do qual parte tomando, nos dotamos de alma.
15- Destes agora, estes tais sendo, outra multidão a mim sobreveio, da Líbia, Carnéades e Cleitômaco e quantos discípulos destes pisando por cima de todas as doutrinas. Eles demonstrando precisamente serem incompreensíveis as coisas todas, e sempre com a verdade, a falsa fantasia está junto. O que então tenho passado, sofrendo neste tempo? Como do meu pensamento defeco as tais doutrinas? Pois se nada for apreensível, a verdade então escapa dos homens. A hineada filosofia pela sombra combate mais do que do ente conhecimento tem.
16- Outros agora, da antiga estirpe, Pitágoras e os filiados deste, solenes e soturnos, transmitem para mim como mistérios outras doutrinas, a grande e proibida, ele diz; O princípio de tudo a mônada, a partir das formas dela e a partir dos números os elementos vem a ser. E destes cada, o número, a forma e a medida, assim esclarece: “O fogo pelos vinte e quatro triângulos retângulos é completado nos quatro eqüiláteros que cercam. Cada eqüilátero é composto de seis triângulos ortogonais, de onde o assemelham com a pirâmide. O ar por quarenta e oito triângulos eqüiláteros que cercam aos oito eqüiláteros, assemelha-se ao octaedro, o qual é limitado por oito triângulos eqüiláteros, dos quais cada para seis retângulos divididos de modo a se tornarem quarenta e oito ao todo. A água por cento é vinte triângulos iguais é completa, e por vinte eqüiláteros cercada, assemelha-se ao icosaedro, o qual é composto de cento e vinte triângulos iguais e eqüiláteros. O éter é completo por doze pentágonos eqüiláteros e é semelhante ao dodecaedro. A terra é completa a partir de quarenta e oito triângulos e cercada por seis retângulos eqüiláteros, é semelhante ao cubo, pois o cubo é limitado por seis quadrados dos quais cada para quarenta e oito triângulos é dividido de modo a serem ao todo quarenta e oito.
17- Então o cosmo Pitágoras mede. Eu outra vez ficando entusiasmado, da casa, da pátria, da mulher e dos filhos tenho desprezo e nada destas coisas a mim importa. Para o próprio éter eu mesmo subo, e tomando a régua de junto do Pitágoras começo a medir o fogo. Pois não basta Zeus medindo, mas se não o grande ser vivo, o grande corpo, a grande alma, eu mesmo para o céu subisse e medisse o éter, vai-se o poder de Zeus. Quando eu medir, o Zeus perto de mim poderá aprender quantos ângulos tem o fogo. De novo desço do céu e comendo azeitonas, figos e verduras, o mais rápido para água me dirijo e segundo a régua, o dáctilo e o semi-dáctilo meço a essência úmida e calculo a profundidade dela, a fim de ensinar ao Poseidon quanto do mar é o poder. A terra inteira em um único dia percorro, reunindo o número, a medida e a forma. Pois estou convencido que do cosmo todo nem palmo deixarei escapar, sendo assim tão valioso. Eu sei o número dos astros, dos peixes, das bestas e numa balança o cosmo colocando facilmente posso aprender o peso dele.
18- Em torno destas, até agora tem esforçado a minha alma no governo do todo. Inclina-se e me diz Epicuro: “Tu, um cosmo tens medido, querido, há muitos cosmos infinitos.” De novo então sou forçado a medir outros céus, outros éteres e estes, muitos. Vamos já! Não mais tardando, aprovisionando-me por poucos dias, para os mundos de Epicuro partirei. Então os limites, Thétis e Oceano, sobrevôo facilmente. Indo para o mundo novo, como para outra cidade, meço todas as coisas em poucos dias. Daí, subo de novo para um terceiro mundo, depois para um quarto, quinto, décimo, centésimo, milésimo, e até onde? Pois já para mim é escuridão totalmente ignorante, erro negro, infinita divagação, vã fantasia, nóia incompreensível. A menos que possa contar os próprios átomos, a partir dos quais tais mundos vieram a ser, afim de que não deixe nada indefinido, principalmente destes assim, necessários e úteis, a partir dos quais as casas e cidades alegram?
19- Por estas coisas então passei, desejando apontar a essência contraditória nos dogmas deles, e como para o infinito e o indeterminado avança com eles a investigação das coisas, o fim deles incerto e inútil, em obra nenhuma evidente, nem no claro discurso se confirmando.